quarta-feira, 12 de agosto de 2015

#Crônica02 - O Quarto Dia


Foram três dias.
No primeiro, estava trancado no quarto, sem água e sem comida. Sem sol e sem luz alguma. Só escuridão e desalento. Devaneios. Pensamentos dispersos. Desespero. Fora jogado por dois homens que vestiam terno. Os dois eram morenos, altos e fortes. Não protestei nem esperneei. Apenas deixei que me levassem. Assumia toda a culpa daquilo, e nada a revogaria de mim. A não ser que, por um milagre, eu morresse bem antes, dormindo, até. Mas isso não aconteceria. E eu dormi.
No segundo dia, a ficha do que ia acontecer pareceu cair. O desespero emergiu sem dó nem piedade. A angústia, a fome, a sede. Tudo era gritos e choro. Acho que os “guardas” já não aguentavam mais de dor de cabeça e fizeram a maior comemoração quanto me calei. Estava arrependido. Deveria ter arrumado dinheiro de algum jeito para pagar aquela dívida. Bem que Izolda havia dito: “não se mete com traficante, Luiz. Tu ainda vai se ferrar todo”. E lá estava eu, me ferrando todo mesmo.
Terceiro dia: desmaios. Um atrás do outro. Como não tinha muita lucidez, devo ter perdido as contas no quarto ou quinto só pela manhã. Não me mexia. Não me sentia. E tudo o que via era escuridão. Ninguém nem chegava perto da porta para olhar minha cara, encarar meus olhos cansados, meu estômago dolorido e meus pés e mãos sujos de sangue. Do meu sangue. E no final da tarde ─ tudo o que fazia, ali dentro, era contar o tempo ─, desmaiei para definitivamente acordar em um lugar que não aquele.
Depois desses três dias, eles abriram a porta. E eu teria ouvido todos aqueles tiros, se eles não tivessem estourado minha cabeça inteira.

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