quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

#Crônica08 - Carta de um cafageste arrependido ao Papai Noel


Bom Velhinho,
Eu bem sei que nunca fui um bom rapaz. Bom, pelo menos não com relacionamentos. Mas é aquela velha história do “não estou tão preparado para assumir algo tão sério agora”.
Esse ano eu queria mudar, sabe, Noel? Não é algo que só uma promessa de Ano Novo resolva. E queria te pedir que fizesse um esforcinho, coisa boba, pra atender esse pedido de um velho amigo seu. No ano que vem, só preciso de alguém, uma única pessoa, que me faça sofrer como se eu fosse um condenado por todos os infernos existentes a ser torturado por uma paixão enganosa, algo que não me possa corresponder. Dá pra ser?
O senhor lembra quando eu pedia carrinhos, bolas e bonecos assassinos? Então. Acho que é quase o mesmo esforço, sabe? Só preciso de alguém que me fira, mas me fira muito, pra ver se eu aprendo logo a lição de vez.
Desisto de procurar alguém pra namorar ou simplesmente ficar. Eu sempre machuco todo mundo. Tem uma hora que a consciência pesa tanto que carregá-la cansa. Mudar não é só questão de iniciativa. A gente sempre precisa de alguém que ajude na adaptação.
Eu sei. Sei que o senhor só atende aos pedidos dos meninos bonzinhos. Sei que não é sua obrigação ouvir os lamentos de um louco que quer se apaixonar de verdade, que cansou de iludir, de matar sentimentos alheios sem cabimento algum. Mas o que custa? Errar é humano, beleza. Permanecer no erro me fez deixar de ser humano por muito tempo. Acho que o arrependimento, acompanhado da aceitação da punição, já vale como pagamento por tudo isso. Não? Tá bem. Vamos lá.
Papai Noel, acho que não é mais tão cedo para assumir algo sério de verdade. E, sinceramente, prefiro passar a sofrer de hoje em diante do que continuar sendo um fardo de lembranças ruins para alguém.
De seu velho amigo,
Cafajeste (arrependido).

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